sexta-feira, 13 de abril de 2012

Bloodline




Abro os olhos. 
Que merda de dor de cabeça.
Não sei onde estou. Tudo escuro, frio, faz muito frio aqui.
Levanto, começo a caminhar. Não consigo enxergar nada em lugar nenhum. A escuridão é imensa. Trevas mesmo.
Ouço barulhos. Correntes? Gritos de pessoas? Gemidos?
Corro em direção a isso. Preciso descobrir algo sobre este lugar estranho.
Corro muito, mas nunca consigo chegar a lugar nenhum. Os gritos e ruídos continuam. Que porra de lugar é esse? O que aconteceu?
Sento novamente. Preciso me lembrar do que aconteceu.
O frio é imenso, parece uma navalha cortando meu corpo.
Algumas lembranças começam a vir, momentos que antecederam o que está acontecendo agora.
Cheiro forte de maconha. Lembro disso. Bebidas, risadas, rostos amigos.
Música, boa música, Slayer. A música... deixa eu forçar mais a memória... Bloodline. Isso, Bloodline. Grande música.
O copo passa por todos nós, assim como o baseado.
Tem outra coisa que está passando também, mas não consigo ver direito o que é.
É um objeto metálico.
Mas o que seria? 
Forço mais a memória... Isso, é o 38 de meu avô.
Ele passa por todos nós. Escuto diversos clics, risadas e mais risadas.
Ele chega em minhas mãos. Acabam aqui as lembranças.
Será que... Não, isso não. 
Levanto, recomeço a caminhar. Uma sensação de vazio começa a me preencher.
Continuo escutando lamúrias por todos os lados, mas não consigo chegar a nenhum lugar.
Paro...
Sinto uma corrente elétrica muito forte passar por meu corpo e um puxão. Resisto. Mais isso agora... Choques elétricos e puxões.
Continuo caminhando.
Novo choque, mais forte. Outro puxão. Mas que merda, me deixem em paz. Resisto novamente.
Começo a ouvir outras vozes, distantes.
Novo choque fortíssimo. Outro puxão. Dessa vez fui arrastado. Levando novamente para outro lugar. Apago.
Abro os olhos.
Olho para os lados, tudo branco, estou deitado. Vejo meus pais sentados.
Merda, retornei.
Acordei novamente para a merda de minha vida.

Existência




Desci ao meu inferno
Em tão pouco tempo
Minha alma ardia,
Meu coração sofria,
Meu corpo enfraquecia

Senti por dias, por noites
Um amor triste, vazio
Um coração inerte
Um sentimento inverso

Completamente perdido
Em devaneios,
Meio neurótico
Com medo, com fraquezas
Fraquezas humanas

Fugindo da vida
Procurando uma forma
Um jeito de me destruir
Por me julgar culpado,
De somente ter errado
Na minha existência

Como recuperar esse tempo?
Ainda posso mudar?
Voltar a ser o que já fui um dia
Difícil responder
Difícil encontrar uma forma

Minha alma ainda agoniza
Meu coração ainda sofre
Preciso descansar,
Talvez dormir eternamente
Para então recuperar
O que perdi dentro de mim

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Visita Noturna




Ela acorda assustada.
Um peso sobre seu corpo. Não consegue se mexer.
Abre os olhos, não consegue ver nada.
Uma sensação de medo e desespero toma conta de sua alma.
O lençol que a tapava lentamente vai sendo puxado até ser bruscamente atirado no chão.
Ela está cada vez mais nervosa. Tenta gritar, não consegue.
Sente algo agarrando seus tornozelos e suavemente abrindo suas pernas.
“O que será isso?” – ela pensa.
As sensações de medo e desespero começam a dar lugar a uma sensação suave de prazer.
O seu corpo transpira.
Prazer, como em um ato sexual.
Sua respiração fica cada vez mais ofegante.
O prazer aumenta. E quanto mais aumenta seu prazer, mais sua energia e força diminuem.
Ela sente. Está chegando.
“Meu Deus...” – ela fala.
Um orgasmo como nunca tinha sentido antes.
Logo após, ela desmaia.
Perde sua consciência.
O inccubus se levanta. Forte. Poderoso. E some.
Passam-se minutos, ele recobra os sentidos.
Ainda se lembra do que ocorreu, somente não sabe ao certo o que era.
Ela reza.
Reza para que ele a visite na próxima noite.

Lamúrias



Minha alma se perde em meio a lamúrias
Por um amor que não posso ter
Por um corpo que não posso tocar
Sinto-me doente, fraco, impotente
Me cure, eu imploro, me cure
O amor que pensei que me salvaria
Me destrói mais a cada dia
Como posso ser desse jeito?
Amaldiçoado por um desejo insano
Preso por correntes a um futuro inexistente
Estou ferido pela rosa negra que é teu amor
Tão belo e que me machuca com espinhos
Cada vez que tento abraçá-lo, senti-lo
Isso me sufoca, me afoga em lágrimas
Lágrimas que derramo em vão, lágrimas sem sentido
Que não caem de meus olhos, mas de meu coração
Melancólico, triste, quase sem pulsação
Essa minha maldita existência é tão torpe
Eu me repudio a cada lua que passa
Me entristeço a cada palavra que digo
Assim está sendo e assim sempre será
Por toda minha vida gélida e ilusória

Sombras




Minhas forças, minha energia
Sendo sugadas pouco a pouco
Meu corpo sempre entorpecido
Uma vontade que não é minha
Sinto-me cada vez mais fraco,
Mais vulnerável contra as sombras
Meu coração seca segundo a segundo
Minha mente se perde a cada instante
Minha alma se dissipa lentamente

Cada vez mais perdido, confuso
Meu próprio espírito se afundou
Nesse poço escuro, gélido, sem fim
Minha culpa, toda minha culpa
Agora sei disso, eu sou culpado
Por todas as minhas vidas,
Por todas as minhas decisões,
Minha culpa, minha grande culpa

Continuo lutando, tentando, mas…
Não tenho mais forças para vencer
Me sinto completamente exaurido
Perdi meu equilibrio, meu centro
Fui vencido pelo meu lado negro
Um lado que sempre existiu
Que estava adormecido, escondido
Mas que ressurgiu para me levar
Ao lugar que pertenço…

sábado, 9 de julho de 2011

Inércia


 
Meus pensamentos continuam vagando
Tomando as mais diversas formas
Enquanto o meu próprio ser, minha essência
Continua parada esperando a luz que sinto ao longe
Meu maior erro… minha inércia, minha incapacidade
Eu espero que Ela me encontre, me abrace
Me tome, me proteja, me faça ser o que quero ser
Faltam-me forças para chegar onde devo
A distância, o tempo, tudo é tão cruel
Sinto o vento que tenta me empurrar até Ela
Ouço vozes que me dizem para prosseguir… meu coração
Ouço vozes que me dizem para desistir… minha razão
Peço a Ela que me ajude, que venha até mim
Mas sei que não é possível, algo a impede
O que fazer para juntar o que está separado?
O que fazer para separar o que está junto?
Como conseguir viver o que preciso sem abrir feridas?
Questionamentos sem respostas
Desejos que divergem das palavras que digo
Sentimentos que beiram a minha incompreensão
Enquanto não tenho respostas,
Enquanto não compreendo
Meus pensamentos continuam vagando
Tomando as mais diversas formas…

Aborto


 
Ele apenas observa a discussão.
- Você é louca? Porque não me disse que estava em seu período fértil? – grita Flávio.
- Meu amor, calma. Acho que poderemos...
- Poderemos o que? Criar uma criança? Não, nem pensar.
Flávio sai daquela casa batendo a porta.
Ele senta ao lado dela. Tenta fazer um carinho para acalmar Márcia, mas parece que ela não o sente, ou finge não sentir.
Márcia chora desesperadamente. O seu sonho em ter um filho parece que irá por água abaixo. Flávio não o quer.
Ele tenta consolar. Ela não o escuta.
Márcia liga para o celular de Flávio.
- Pensei melhor Flávio, farei o que deve ser feito.
E desliga.
Ela pega sua bolsa e a chave do carro.
Ele tenta falar com ela, tenta fazer ela desistir da idéia. É impossível ela parece não o enxergar ou ouvir.
Márcia segue em direção a uma clínica clandestina que faz abortos. Ele continua com ela, tentando em vão persuadi-la a desistir.
Márcia fala com o médico. Está tudo certo. Será feito agora mesmo.
Se dirigem para a sala onde será feito o aborto. Todos os procedimentos são realizados.
Ele observa. Triste.
O aborto começa a ser realizado.
Uma pequena complicação com Márcia.
“Não.” – ele grita.
Ninguém ouve como sempre.
No meio de tudo isso, pela primeira vez Márcia consegue enxerga-lo e ouvi-lo.
Ele está dizendo “não, não faça isso”.
Mas é tarde demais.
Ele enxerga o feto sendo retirado.
Ele vê a sua chance de retornar indo embora.